A Luta Antimanicomial e o samba-enredo selecionado para o desfile do dia 17/05

 

“Do Rio ao mar, nossa luta nosso ofício

Nunca mais genocídios e hospícios.”

– A pururuca vai estourar! a pororoca vai chegar!

 

No dia 18/05, é celebrado no Brasil o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Por isso, nesta sexta-feira (17/05), acontecerá no centro de Belo Horizonte o desfile anual da Escola de Samba “Liberdade Ainda que Tam Tam”, maior manifestação antimanicomial do país e que está em vigor desde 1996. O movimento antimanicomial visa combater o estigma e a exclusão social de pessoas em sofrimento psíquico, destacando a importância de tratá-los em liberdade. Pessoas de diferentes categorias profissionais e sociais se engajam na luta questionando o modelo clássico de assistência mental centrado em internações em hospitais psiquiátricos e propondo a reorganização do modelo.

O evento que marca a Luta Antimanicomial em Minas Gerais é um desfile carnavalesco autêntico com fantasias, pequenos carros alegóricos, Mestre-Sala, Rainha de Bateria, Porta-Bandeira e samba-enredo. O samba-enredo principal deste ano é o “A pururuca vai estourar! a pororoca vai chegar!”, composto pela equipe de usuários e trabalhadores do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Guanhães/MG, incluindo o psicólogo da Fump, Bruno Campos Pereira.

Bruno nos explicou por que o ato que celebra e dá visibilidade à causa em Minas Gerais é um desfile de carnaval. Ele conta que “em Belo Horizonte, no início dos anos 90, o movimento social pela Luta Antimanicomial começou a realizar uma caminhada nas ruas. Essa caminhada foi ganhando corpo e, então, criou-se a Escola ‘Liberdade Ainda que Tam Tam’ de forma coletiva, a partir do entendimento de transformar o que antes era uma caminhada em um evento político-cultural. E assim foi se formatando o tradicional desfile de carnaval mineiro pela Luta Antimanicomial.”

A escolha do samba-enredo acontece usualmente por meio de um concurso promovido pelo Fórum Mineiro de Saúde Mental. O tema geral do desfile da Luta Antimanicomial deste ano é “Do Rio ao Mar: Somos os Povos que Navegam em Confluências Contra os Genocídios para a Justiça Triunfar”, e cada um dos competidores escreveu a letra do samba-enredo com base nele. A escolha foi feita no dia 16/04 a partir da pontuação dada pela banca de jurados selecionados pelo Fórum e da aclamação do público presente. A equipe do CAPS Guanhães e a bateria da Escola de Samba “Vai Quem Qué”, bloco de carnaval da cidade, viajaram até Belo Horizonte para presenciar a votação e apoiar sua equipe de compositores. Os apoiadores foram acolhidos pela equipe do RU Setorial II no dia do concurso e 37 refeições foram servidas.

O samba-enredo vencedor, escrito pelos usuários e trabalhadores do CAPS de Guanhães, teve um processo de composição coletiva. De acordo com o psicólogo Bruno, a equipe convidou o Secretário Municipal de Cultura de Guanhães, Flávio Roberto dos Reis (Robertinho Zier), que é também cantor, compositor e artista, para musicar a letra. Além disso, também foi articulada uma parceria com a bateria de samba da cidade “Bateria Vai Quem Qué” para a apresentação do samba no concurso.

 

12ª Semana de Saúde Mental E Inclusão Social na UFMG

A UFMG realizará diversas ações ao longo da semana com o objetivo de conscientizar, divulgar e apoiar o movimento. Na quinta e sexta-feira (15 e 16 de maio) acontecerá, no campus Pampulha, a “12ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG”, que contará com palestras, oficinas e debates sobre saúde mental e o trabalho docente. Na sexta-feira, às 12h30, haverá um “esquenta” para o desfile da Escola de Samba “Liberdade Ainda que Tam Tam”, no entorno do Restaurante Universitário Setorial II. Toda a comunidade universitária está convidada a participar. O cortejo terá início às 13h, na Praça da Liberdade, e vai descer a Avenida João Pinheiro e seguir a Avenida Afonso Pena em direção à Praça da Estação, onde se dará a dispersão em torno das 17h.

 

Confira a seguir a letra completa do samba-enredo: 

A pururuca vai estourar! A pororoca vai chegar!

“Do Rio ao mar, nossa luta nosso ofício

Nunca mais genocídios e hospícios.

Do Rio ao mar, nossa luta nosso ofício

Nunca mais genocídios e hospícios.

 

No barco da loucura prender não é sina

E não vamos morrer de crueldade

No Brasil ou Palestina.

 

Tem gente que ganha dinheiro com gaiola de gente

O que é isso companheiro?

Nossa loucura não é tutu nem pão de queijo

Bora colocar a mão na massa

Manicômio não presta / de janeiro a janeiro

 

Oxum faz a nascente dançar!

O Olho d’água fluir

A justiça enfim jorrar

Oxum faz a nascente dançar!

O Olho d’água fluir

A justiça esparramar.

 

Com quantos rios se adoça o mar?

Tá na hora de ver a pururuca estourar.

Somos onda alta e barulhenta,

Vem misturando vem misturar

Tá na hora de ver pororoca chegar!

Nossa fantasia, tecido de amor!

Arte do coração, sem armas na mão.

A RAPS é um mar de água doce.

O SUS banho de cachoeira

A vida foi Deus que me deu

E eu vou navegar sem fronteira

 

Oxum faz a nascente dançar!

O Olho d’água fluir

A paz enfim jorrar

Oxum faz a nascente dançar!

O Olho d’água fluir

A paz esparramar.

 

Do Rio ao mar, nossa luta nosso ofício

Nunca mais genocídios e hospícios.”

 

Letra e Música: Angélica Fróis, Nildes Pires, Antônio do Parto, Meire Aparecida, Maria Rosa Dias, Bruno Campos, Liliane Maria Silva, Sara Caldeira, Thaiane T., João Paulo Patrício, Anísio Rodrigues, Robertinho Zier, Vanessa Souza Gomes., Enilton Queiroz.